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Terapia Cognitivo-Comportamental para adultos com TDAH: Como funciona na prática e por que pode ser mais eficaz que medicamentos sozinhos

  • Foto do escritor: Gisele Silva Corrêa
    Gisele Silva Corrêa
  • 8 de dez.
  • 4 min de leitura

Por que só tomar remédio não está resolvendo meu TDAH?


Essa é uma pergunta muito comum no consultório. Muitos adultos chegam à terapia frustrados: já passaram por avaliação, tomam medicação, mas ainda enfrentam dificuldade de concentração, esquecimentos, desorganização e conflitos familiares.

A resposta pode estar nas chamadas funções executivas: um conjunto de habilidades cognitivas que nos ajudam a planejar, organizar, controlar o tempo, iniciar tarefas e lidar com emoções. E é exatamente aí que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) mais pode ajudar.


Neste artigo, vamos explorar como funciona, na prática, uma intervenção baseada na TCC adaptada para adultos com TDAH. Vamos detalhar as etapas, mostrar quais habilidades são desenvolvidas e por que essa abordagem pode ser o divisor de águas que você procura.


O que são funções executivas e por que elas são tão importantes?


As funções executivas são como o “sistema de direção” do nosso cérebro. Elas permitem que a gente:


  • Planeje e organize tarefas;

  • Gerencie o tempo e a energia;

  • Inicie e finalize atividades;

  • Mantenha o foco e mude de uma tarefa para outra;

  • Controle impulsos e emoções;

  • Monitore o próprio comportamento e faça ajustes.


Pessoas com TDAH geralmente têm dificuldades nessas áreas. Não é apenas “preguiça” ou “falta de força de vontade”. É um padrão neurológico que exige estratégias específicas para ser manejado com sucesso.


O que é a TCC para TDAH em adultos?


A TCC é uma abordagem terapêutica baseada em evidências, que ajuda a identificar pensamentos automáticos, crenças disfuncionais e comportamentos desadaptativos. No caso do TDAH, ela tem um foco especial: ensinar estratégias compensatórias para lidar com os déficits nas funções executivas.


O protocolo de TCC desenvolvido por Solanto (2011), utilizado como base no estudo de Puente & Mitchell (2016), foi pensado para grupos, mas pode ser adaptado para sessões individuais. E isso faz toda a diferença na personalização do tratamento.

É importante entender que esse tipo de terapia é muito diferente de uma conversa genérica. Ela é estruturada, prática, voltada para o cotidiano. Ela te ensina o “como fazer” de forma concreta.


Etapas do tratamento: muito além das técnicas


O protocolo é composto por diferentes etapas, e cada uma tem sua função. Veja como elas são organizadas:


1. Aceitação do diagnóstico e motivação para mudança


Antes de qualquer técnica, o primeiro passo é aceitar o diagnóstico de TDAH. Isso significa sair da culpa e do julgamento e entender que o transtorno existe — mas pode ser manejado.


Nesse momento, o terapeuta também trabalha sua motivação para a mudança. Mudar hábitos exige esforço, e sem motivação interna é difícil manter a constância. Aqui, você vai explorar o que realmente importa para você e por que vale a pena enfrentar o desafio.


2. Identificação de crenças disfuncionais sobre o TDAH


Muitos adultos com TDAH carregam crenças negativas, como:


  • “Não adianta, eu sou assim mesmo.”

  • “Essas técnicas são simples demais para funcionarem.”

  • “Eu já tentei de tudo, não vai dar certo.”


O problema é que essas crenças impedem a pessoa de aplicar o que aprende na terapia. Por isso, elas precisam ser identificadas e reestruturadas antes da aplicação das estratégias práticas.


Habilidades trabalhadas ao longo do tratamento


Com as bases emocionais e cognitivas fortalecidas, começa o treinamento das funções executivas. Veja as principais habilidades abordadas:


a. Gestão do tempo

  • Aprender a estimar o tempo real das tarefas;

  • Criar rotinas com horários definidos;

  • Usar planejadores e listas de tarefas de forma eficiente.


b. Organização

  • Desenvolver sistemas simples de organização física e digital;

  • Eliminar acúmulos e definir lugares fixos para cada item;

  • Criar hábitos de manutenção da ordem.


c. Planejamento e priorização

  • Saber por onde começar;

  • Quebrar tarefas grandes em partes menores;

  • Aprender a priorizar o que é mais importante primeiro.


d. Iniciação de tarefas e controle da procrastinação

  • Técnicas para sair da inércia e começar mesmo sem vontade;

  • Uso de reforço positivo para manter a motivação.


e. Regulação emocional e impulsividade

  • Identificar gatilhos emocionais que atrapalham o foco;

  • Desenvolver autorregulação e paciência frente a tarefas monótonas.


f. Autocontrole e monitoramento

  • Acompanhar a própria evolução;

  • Criar estratégias de autoavaliação e ajuste de comportamento.


Mas por que muitas pessoas não têm resultados na terapia?

Existem dois motivos principais:


1. Escolha de abordagens genéricas

Muitos adultos com TDAH procuram terapias que não são especializadas. Sem o foco nas funções executivas, o tratamento fica subjetivo, impreciso e os resultados não aparecem.


2. Desvalorização das estratégias ensinadas

Outro erro comum é achar que as técnicas propostas são “simples demais” ou “coisas que qualquer um sabe”. O problema não é saber, é fazer com consistência. A mudança real acontece quando se pratica diariamente o que foi ensinado.


O que esperar da duração do tratamento?


No estudo de caso citado, o tratamento durou 12 sessões. Mas na prática clínica, isso varia muito. O número de sessões depende de:

  • Intensidade dos sintomas;

  • Existência de outras condições, como ansiedade ou depressão;

  • Nível de resistência à mudança;

  • Apoio familiar ou social disponível;

  • Grau de engajamento com o processo.

Trabalhar com protocolos clínicos validados garante a eficácia das ferramentas. Mas não é possível prever com exatidão o tempo de tratamento nem os resultados, pois isso depende do contexto e do esforço individual.


Conclusão: TDAH exige uma abordagem especializada


Se você tem TDAH e ainda não conseguiu sentir progresso mesmo com medicação, talvez o que falte seja uma abordagem prática e validada.


A TCC para TDAH não é uma terapia genérica. Ela é direcionada para os desafios que realmente atrapalham a sua vida: atrasos, bagunça, procrastinação, desorganização, irritabilidade, sensação de frustração constante.


Com o acompanhamento certo, você aprende a lidar com essas dificuldades de maneira prática, com técnicas específicas e realistas. Mas lembre-se: você também precisa fazer a sua parte, praticando o que aprende com comprometimento e paciência.

Não espere mudanças mágicas. Espere mudanças construídas. Dia após dia, com orientação, persistência e estratégia.


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Referência:


 Puente, A. N., & Mitchell, J. T. (2016). Cognitive-behavioral therapy for adult ADHD: A case study of multi-method assessment of executive functioning in clinical practice and manualized treatment adaptation. Clinical Case Studies, 15(3), 198-211.

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