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Será que a rigidez cognitiva é mesmo um problema?

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    Agência Brand Red
  • há 7 dias
  • 6 min de leitura

Um olhar sobre autismo e superdotação

Será que a rigidez cognitiva é mesmo um problema?
Será que a rigidez cognitiva é mesmo um problema?

Descubra como a rigidez cognitiva pode ser força e desafio em adultos com autismo ou superdotação — e como a TCC, o mindfulness e a avaliação neuropsicológica podem promover equilíbrio e autoconhecimento.


A mente brilhante que não desliga


Há pessoas cuja mente nunca parece descansar. São aquelas que pensam rápido, observam detalhes que outros ignoram e buscam coerência e precisão em tudo o que fazem. Essa intensidade mental pode ser fascinante — mas também exaustiva. Em muitos casos, está relacionada à rigidez cognitiva, um padrão de funcionamento presente em diferentes graus em pessoas autistas e superdotadas.


Com frequência, esse traço é visto como algo negativo — uma limitação, uma dificuldade de adaptação. No entanto, estudos recentes mostram que a rigidez cognitiva também pode ser um reflexo de uma mente estruturada, analítica e resiliente (Desvaux et al., 2023).


Neste artigo, o objetivo é compreender o que realmente significa ser cognitivamente “rígido”, por que isso ocorre em alguns adultos neurodivergentes e como abordagens baseadas em ciência — como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), o Treinamento em Mindfulness e a Avaliação Neuropsicológica — podem ajudar a transformar esse padrão em autoconhecimento e bem-estar.



O que é rigidez cognitiva (e por que não é um “defeito”)?


A rigidez cognitiva é a dificuldade de mudar de perspectiva, adaptar estratégias mentais ou flexibilizar o raciocínio diante de novas situações. Em termos simples, é a tendência de manter o mesmo modo de pensar mesmo quando o contexto muda.


Esse funcionamento está relacionado às funções executivas — processos cerebrais ligados ao planejamento, tomada de decisão e controle de impulsos, coordenados pelo córtex pré-frontal (Kuznetsova et al., 2024). Pessoas neurotípicas alternam naturalmente entre foco e flexibilidade. Já indivíduos autistas ou superdotados costumam apresentar maior consistência e persistência mental, o que é útil em algumas situações e desafiador em outras.


No cotidiano, a rigidez pode aparecer como:


  • insistir em métodos específicos de trabalho;

  • desconforto com mudanças de rotina;

  • dificuldade em parar uma tarefa antes de concluí-la;

  • tendência a repensar excessivamente um erro.


Longe de ser um defeito, a rigidez cognitiva é um estilo de funcionamento cerebral. Ela se torna um problema apenas quando o ambiente exige constante adaptação — e o cérebro, por natureza, busca previsibilidade.



Autismo e superdotação: quando o pensamento segue um padrão próprio


Pesquisas em neuropsicologia mostram que o autismo e a superdotação compartilham semelhanças em funções executivas e redes de processamento de informação (Desvaux et al., 2023; Kuznetsova et al., 2024). Enquanto o autismo se caracteriza por um modo de funcionamento mais estruturado e sensível a estímulos, a superdotação envolve alta capacidade de raciocínio, memória e criatividade, mas também um pensamento altamente convergente e analítico.


Essas pessoas costumam ter:


  • Preferência por sistemas lógicos e previsíveis;

  • Alto nível de concentração;

  • Necessidade de coerência e sentido nas ações;

  • Dificuldade com situações ambíguas ou caóticas.


Imagine, por exemplo, um adulto superdotado tentando resolver um conflito relacional com lógica e argumentos, enquanto o parceiro busca empatia e acolhimento emocional. Ou uma pessoa autista que experimenta ansiedade intensa diante de mudanças repentinas no trabalho. Ambos os casos refletem a busca por consistência e controle cognitivo — uma forma de manter equilíbrio interno em um mundo que frequentemente parece desorganizado.



Quando a rigidez se torna sofrimento


A rigidez cognitiva torna-se disfuncional quando limita a adaptação emocional ou social. Adultos com esse padrão relatam frequentemente:

  • Frustração diante de imprevistos;

  • Dificuldade em mudar de ideia;

  • Perfeccionismo;

  • Sensação de “travamento” mental sob pressão.


Do ponto de vista neurofuncional, isso se relaciona à hiperconectividade da rede fronto-parietal, responsável por integrar informações e controlar respostas emocionais (Desvaux et al., 2023). Em outras palavras, o cérebro da pessoa “rígida” funciona como um sistema de alta precisão: excelente em resolver problemas complexos, mas menos flexível diante da incerteza.


O tratamento não busca eliminar essa característica, mas sim ensinar o cérebro a alternar conscientemente entre foco e flexibilidade — um processo possível graças à neuroplasticidade.


As duas faces da rigidez cognitiva


Estudos recentes sobre altas habilidades apontam que a rigidez cognitiva está ligada a padrões de alto desempenho e vulnerabilidade emocional (Chieffo et al., 2025). Do lado positivo:


  • Promove persistência e atenção aos detalhes;

  • Fortalece a disciplina e o raciocínio lógico;

  • Favorece o pensamento analítico e estratégico.


Por outro lado:


  • alimenta o perfeccionismo;

  • intensifica a autocrítica;

  • aumenta a intolerância ao erro;

  • contribui para quadros de ansiedade ou exaustão mental.

Essa dualidade explica por que tantas pessoas inteligentes e competentes se sentem emocionalmente sobrecarregadas. O que as leva à busca por ajuda não é a inteligência — é o sofrimento gerado pelo desequilíbrio entre controle e flexibilidade. É nesse ponto que abordagens terapêuticas baseadas em evidências se tornam essenciais.



Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): o treino da flexibilidade mental


A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é amplamente reconhecida por ajudar indivíduos a desenvolver flexibilidade cognitiva e emocional. Baseada na identificação de padrões automáticos de pensamento, a TCC ensina o paciente a questionar crenças rígidas e substituir interpretações extremas por perspectivas mais realistas.


Para adultos autistas ou superdotados, essa abordagem é especialmente eficaz para:


  • reduzir o perfeccionismo e a autocrítica;

  • aprender a lidar com mudanças sem perda de controle;

  • desenvolver tolerância à incerteza;

  • equilibrar razão e emoção.


Por exemplo, o pensamento “preciso estar certo” pode ser reformulado para “posso aprender algo novo aqui”. Essa mudança simples modifica o funcionamento cerebral, promovendo novas conexões neurais e maior adaptabilidade.




7. Mindfulness e rigidez cognitiva: treinando a presença e a flexibilidade


O Mindfulness — ou atenção plena — é uma prática que treina a mente para observar pensamentos e emoções sem reagir automaticamente. Enquanto a TCC trabalha o conteúdo dos pensamentos, o mindfulness trabalha o processo: ensina a criar espaço entre o estímulo e a resposta.


Pesquisas demonstram que o mindfulness modifica a atividade do córtex pré-frontal e do sistema límbico, reduzindo a reatividade emocional e fortalecendo a regulação interna (Tang et al., 2015). Para quem tem rigidez cognitiva, essa prática desenvolve:

  • consciência sobre o próprio fluxo mental;

  • maior calma diante de imprevistos;

  • capacidade de responder, em vez de reagir;

  • sensação de estabilidade sem necessidade de controle excessivo.




8. Avaliação Neuropsicológica: entender o funcionamento para intervir com precisão

Nem toda rigidez cognitiva tem a mesma origem. Por isso, a Avaliação Neuropsicológica é fundamental para compreender se esse padrão está associado a altas habilidades, autismo, ansiedade, TDAH ou outras condições.


Essa avaliação investiga aspectos como atenção, memória, velocidade de processamento, raciocínio e flexibilidade mental — compondo um retrato detalhado do funcionamento cognitivo. Segundo revisões recentes (Kuznetsova et al., 2024; Desvaux et al., 2023), pessoas com altas habilidades tendem a apresentar excelente desempenho em memória de trabalho e raciocínio abstrato, mas maior dificuldade em alternar estratégias cognitivas rapidamente. Já no autismo, há um padrão de hiperfoco e menor adaptação emocional.


Com base nesses resultados, é possível planejar intervenções personalizadas, ajustando estratégias terapêuticas e comportamentais conforme o perfil cognitivo.




Reprogramando o cérebro: da rigidez à integração


Um dos maiores avanços da neurociência moderna é a comprovação de que o cérebro é plástico em qualquer idade. Isso significa que padrões mentais rígidos — mesmo os mais antigos — podem ser transformados por meio de treino, terapia e autoconhecimento.


A prática da metacognição, presente tanto na TCC quanto no mindfulness, ajuda a pessoa a observar o próprio pensamento e escolher respostas mais adaptativas. Essa autorregulação fortalece as áreas cerebrais envolvidas na tomada de decisão e na flexibilidade cognitiva.


Desenvolver uma mente flexível não significa abrir mão da estrutura ou da lógica — significa usar essas qualidades de forma mais leve, adaptável e compassiva.



Conclusão – Um convite à autocompreensão


A rigidez cognitiva não é um erro de funcionamento, mas um modo particular de o cérebro buscar segurança e coerência. Em adultos com superdotação ou autismo, ela expressa uma sensibilidade intelectual e emocional acima da média — um estilo de pensar que pode ser tanto uma força quanto uma fonte de sofrimento.


Com autoconhecimento e apoio terapêutico, é possível equilibrar essas dimensões. A flexibilidade não substitui a profundidade; ela a complementa. E aprender a se mover entre foco e leveza é um dos maiores sinais de maturidade emocional.



Referências:


  • KUZNETSOVA, E. et al. Giftedness identification and cognitive, physiological and psychological characteristics of gifted children: a systematic review. Frontiers in Psychology, v. 15, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fpsyg.2024.1411981. Acesso em: 28 out. 2025.

  • CHIEFFO, D. et al. Cognitive, behavioral, and learning profiles of children with above-average cognitive functioning: Insights from an Italian clinical sample. Children (Basel), v. 12, n. 7, art. 926, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.3390/children12070926. Acesso em: 28 out. 2025.

  • TANG, Y.-Y.; HÖLZEL, B. K.; POSNER, M. I. The neuroscience of mindfulness meditation. Nature Reviews Neuroscience, v. 16, n. 4, p. 213-225, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1038/nrn3916. Acesso em: 28 out. 2025.

  • KABAT-ZINN, J. Mindfulness for beginners: reclaiming the present moment—and your life. Boulder: Sounds True, 2011.


"Será que a rigidez cognitiva é mesmo um problema?"


 
 
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