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Rigidez Cognitiva: o que diferencia o autismo da superdotação?

  • Foto do escritor: Gisele S. Corrêa
    Gisele S. Corrêa
  • há 5 dias
  • 5 min de leitura

Quando o cérebro pensa “fora da caixa”


A mente humana é um universo de possibilidades. Dentro dele, há cérebros que funcionam de modos singulares — como o de pessoas autistas e superdotadas. Ambas as condições despertam fascínio e curiosidade, especialmente porque, apesar das diferenças, compartilham traços em comum — como a rigidez cognitiva, uma dificuldade em mudar de foco, aceitar imprevistos ou pensar de forma flexível.


Com base no estudo de Riccioni et al. (2021), publicado na revista Brain Sciences, este artigo explica de forma simples e didática como a rigidez cognitiva se manifesta no autismo e na superdotação, e o que a diferencia na prática.




Rigidez Cognitiva: o que diferencia o autismo da superdotação?
Ao lado esquerdo a imagem representa - a Superdotação. E ao lado direito, a imagem representa a rigidez no pensamento

Rigidez Cognitiva: o que diferencia o autismo da superdotação?


O que é rigidez cognitiva?


A rigidez cognitiva é a dificuldade em adaptar o pensamento a novas situações. Em outras palavras, é a tendência a insistir em padrões e rotinas, mesmo quando uma mudança seria positiva.


Exemplos do dia a dia


  • A criança que se irrita quando o professor muda a rotina da aula.

  • O adolescente que não aceita outro método para resolver um problema.

  • O adulto que sente desconforto ao alterar o trajeto diário para o trabalho.


Esses comportamentos demonstram baixa flexibilidade cognitiva, ou seja, o cérebro tem dificuldade em “trocar de marcha” entre ideias e estratégias.



O que a ciência diz sobre autismo e superdotação


Um estudo de Riccioni e colaboradores (2021) analisou 43 crianças divididas em três grupos:

  1. Autismo de alto funcionamento (HFA)

  2. Alto potencial intelectual (HIP)

  3. Crianças neurotípicas (NTD)


O objetivo foi entender semelhanças e diferenças entre o cérebro de autistas e superdotados — tanto em testes cognitivos quanto em respostas neurofisiológicas (ondas cerebrais).

Os resultados mostraram que ambos os grupos apresentavam perfis cognitivos não homogêneos, ou seja, alto desempenho em algumas áreas e menor em outras.


Semelhanças cognitivas entre autistas e superdotados


Apesar de parecerem opostos, autistas e superdotados têm mais em comum do que se imagina:


  • QIs elevados, mas com desempenho irregular em memória de trabalho e velocidade de processamento.

  • Alta concentração em temas de interesse e dificuldade em dividir a atenção.

  • Tendência ao perfeccionismo e à busca por controle.

  • Sensibilidade emocional e social, frequentemente subestimada.


Esses pontos tornam o diagnóstico mais complexo, pois um superdotado pode parecer autista, e um autista pode ser confundido com superdotado. Para conhecer alguns dos sinais de que você ou seu filho pode ser um superdotado clique aqui.




Diferenças essenciais: o que muda entre autismo e superdotação


Apesar das semelhanças, a origem da rigidez cognitiva é diferente em cada condição:


No autismo

A rigidez surge como parte da forma de funcionamento cerebral. O cérebro autista busca previsibilidade e rotina como forma de segurança emocional. Mudanças súbitas podem gerar angústia real, pois quebram a estrutura mental que mantém o equilíbrio interno.


💡 Exemplo: um autista pode insistir em seguir sempre o mesmo caminho até a escola para evitar a ansiedade que a imprevisibilidade provoca.


Na superdotação

A rigidez vem da exigência interna por excelência. Superdotados tendem a ter pensamento analítico e perfeccionista, e resistem a ideias que consideram “menos lógicas” ou “ineficientes”.


💡 Exemplo: um aluno superdotado pode se frustrar quando o professor pede que ele resolva um exercício de outra forma, mesmo que o resultado seja o mesmo.



O papel do perfeccionismo e da necessidade de controle


O estudo observou que tanto autistas quanto superdotados apresentaram níveis elevados de perfeccionismo, o que pode estar ligado à rigidez cognitiva.


O perfeccionismo, nesses casos, não é apenas “querer fazer bem feito” — é uma necessidade interna de evitar erros, muitas vezes para manter uma sensação de ordem e controle.

Com o tempo, isso pode gerar ansiedade, frustração e bloqueios emocionais, principalmente em ambientes escolares ou de trabalho que valorizam a rapidez e a flexibilidade.



O que os testes cerebrais revelam: MMN e P300


Para entender como o cérebro reage a mudanças, os pesquisadores analisaram dois marcadores elétricos:


  • MMN (Mismatch Negativity): mede como o cérebro detecta sons ou estímulos diferentes.

  • P300: avalia atenção e processamento consciente de informações.


Resultados


  • Crianças com autismo mostraram amplitude reduzida da MMN, indicando menor sensibilidade a mudanças inesperadas.

  • Crianças superdotadas tiveram respostas semelhantes às de crianças típicas, sugerindo maior capacidade de adaptação cerebral.

Esses achados indicam que o cérebro autista tende a “insistir” em padrões familiares, enquanto o superdotado se adapta rapidamente, ainda que emocionalmente isso possa gerar desconforto.


Quando autismo e superdotação se encontram


Algumas pessoas apresentam dupla excepcionalidade — são ao mesmo tempo autistas e superdotadas (clique aqui para saber mais sobre isto). Nesses casos, a rigidez cognitiva pode ser intensa, mas acompanhada de um pensamento lógico e criativo fora do comum.


Esses indivíduos costumam:


  • Ter hiperfoco em temas de interesse.

  • Demonstrar empatia atípica (por meio de ações, não palavras).

  • Ter dificuldades com regras sociais, mas excelência em áreas específicas.

Reconhecer a dupla excepcionalidade é essencial para evitar diagnósticos equivocados e oferecer apoios equilibrados, tanto emocionais quanto intelectuais.


A rigidez cognitiva no dia a dia


Em casa

  • Autistas podem reagir com choro ou irritação a mudanças pequenas, como trocar de roupa fora da ordem.

  • Superdotados podem discutir longamente por acreditarem que “sabem o jeito certo”.


Na escola

  • O aluno autista precisa de rotinas estáveis e previsíveis.

  • O aluno superdotado se desmotiva com tarefas repetitivas ou fáceis demais.


No trabalho

  • Um profissional autista pode ter dificuldade em lidar com imprevistos.

  • Um superdotado pode sentir frustração com equipes que não acompanham seu ritmo.

Essas situações mostram que a rigidez cognitiva não é teimosia — é uma forma de o cérebro proteger-se da incerteza.



Rigidez não é defeito: é característica


A rigidez cognitiva não deve ser tratada como um erro, e sim como um traço de funcionamento. Ela pode ser um obstáculo quando gera sofrimento, mas também uma força quando canalizada para objetivos positivos.


  • No autismo, a rigidez dá segurança e previsibilidade.

  • Na superdotação, ela impulsiona o foco e a persistência.

A chave está em aprender quando insistir e quando ceder, cultivando flexibilidade sem perder o propósito.


Estratégias práticas para lidar com a rigidez cognitiva


1. Antecipar mudanças

Comunique alterações de rotina com antecedência, especialmente para pessoas autistas.

2. Validar emoções

Reconheça o desconforto da mudança: “Eu sei que isso é difícil, mas vamos juntos encontrar um jeito.”

3. Trabalhar a flexibilidade de forma lúdica

Jogos de improviso, dramatizações e dinâmicas com regras que mudam estimulam a adaptação.

4. Personalizar o ensino

Professores podem oferecer atividades desafiadoras para superdotados e rotinas previsíveis com opções de escolha para autistas.

5. Apoio profissional

Psicólogos e neuropsicólogos podem aplicar técnicas de reestruturação cognitiva e treino de funções executivas para ampliar a flexibilidade mental.



Compreender é incluir


A rigidez cognitiva é apenas um dos muitos jeitos de o cérebro funcionar. Ela revela como cada pessoa organiza o mundo à sua volta — algumas buscando previsibilidade, outras, perfeição.


O estudo de Riccioni et al. (2021) mostrou que, embora autistas e superdotados compartilhem traços de rigidez e perfeccionismo, seus caminhos neurológicos são distintos. Enquanto o cérebro autista tende à estabilidade, o superdotado busca exatidão. Ambos pensam profundamente — e de formas extraordinárias.


Compreender essas diferenças não é apenas questão de diagnóstico, mas de respeito à diversidade neurológica. Flexibilidade, afinal, não é o oposto de rigidez — é o equilíbrio entre aceitar o novo e valorizar o que já funciona.


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